ABENÇOADA
“Sou uma mulher de sorte. Mesmo sem grandes recursos financeiros, vivo perfeitamente satisfeita, já que não sou ambiciosa. Diferente de muita gente dominada pelo consumismo, nunca senti cobiça por carros último modelo ou mansões em condomínios fechados. Faz-me muito bem a consciência de que da vida nada se leva. A futilidade que alimento não é caso para tratamento psiquiátrico: gosto de morar confortavelmente, vestir-se com requinte, bons perfumes e livros. Nada disso me falta. Por onde passo, encontro gente amável, inteligente e bem intencionada. Talvez por não ter nenhum complexo de inferioridade, posso correr todos os riscos e me oferecer inteira. São anjos de carne-e-osso suavizando meus caminhos. Como sei que a vida não tem pena de ninguém, sou grato por essa gentileza, gerando uma total descrença na inveja, ira, vingança ou rancor. Ódio, nem falo, é uma doença amaldiçoada. Tô fora. Sou feliz por conseguir sobreviver do meu ofício. Ou seria da bondade alheia? Creio que é exatamente isso: sou um mulher de sorte, abençoada. Um mulher que terminou por compreender que a maturidade dá a certeza que não compreendemos nada”
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